Por: José
Wellington Bezerra da Costa
Todos são unânimes em reconhecer que a igreja do
presente século não é mais o grande e poderoso organismo que abalou o mundo nos
dias apostólicos. Aqueles que possuem algum envolvimento na obra de Deus estão
convictos de que algo está faltando para o seu perfeito funcionamento. O nome
de cristã é o mesmo, as características bíblicas são bem semelhantes, mas o
vigor do início foi alterado. Algum enxerto prejudicou o crescimento da
frondosa árvore plantada no deserto. As flores da primavera fazem-na bela, mas
os frutos são mirrados, indignos para o título que possui.
Vale explicar que o termo Igreja é o conjunto de
todos aqueles que foram salvos pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo, em
qualquer parte do mundo. Esta Igreja é perfeita, indivisível, inquestionável,
porque está edificada na Rocha que é Cristo, o Filho do Deus vivo. Ela jamais
será alvo de críticas, a não ser pelos inimigos do calvário, onde a nossa
reconciliação com Deus foi proclamada, mediante a cruz de Cristo. Esta Igreja é
amada por todos os que aguardam a volta do Senhor.A igreja que falamos aqui é
conhecida como igreja local, o grupo de pessoas que fazem parte do rol de membros
da congregação, na comunidade onde vivem.
Primeiramente, esta mensagem está direcionada às
Assembléias de Deus no Brasil, a extensão do corpo de Cristo que dedicamos
tempo, investimos talentos, devotamos apreço. Se, todavia, outras ramificações
da Igreja aceitarem esta exortação bíblica como advertência da parte do Senhor,
que o mérito seja transferido a Ele.
A comparação da igreja do século XX com a igreja
primitiva, aquela que brilhou nos “Atos dos Apóstolos”, embora distante, sempre
será necessária para não se perder o referencial. Alguns fatores que eram
simplesmente considerados comuns naquela igreja são, atualmente, mencionados
apenas nos discursos. Porém, da teoria à prática, o caminho a percorrer tem
sido distante. Dentre alguns fatores de destaque desta comparação, podemos
citar a admissão dos novos membros; o amor entre os irmãos, a comunhão e o
repartir do pão; a postura e dedicação dos ministros à oração e jejuns; os
contínuos milagres e manifestações dos dons espirituais no dia a dia dos crentes;
o critério na separação de obreiros para o ministério; o tratamento implacável
para com os hereges e o carinho com os fracos na fé; o cuidado com os novos
crentes; o posicionamento do cristão diante da sociedade contemporânea; a
liturgia, etc., todavia, se nos aproximarmos um pouco mais para o século em que
vivemos, surge um novo referencial. Refiro-me ao início das Assembléias de Deus
no Brasil.
Creio que seria presunção da minha parte colocar
a nossa igreja no mesmo nível daquele grupo de crentes mencionados no livro de
Atos, ainda que haja uma série de acontecimentos que contribuem para pensar
dessa maneira. Não podemos esquecer que houve outros movimentos com
características semelhantes, no decorrer da história.
Esse referencial é mais próximo. O tempo, o
espaço e fatores culturais são semelhantes. Embora as transformações sociais e
econômicas ocorram com muita velocidade, ainda é válido partir da plataforma
lançada no Pará, em 1911, para buscar nossa identidade como Igreja que aguarda
o arrebatamento.
Vale a pena refletir sobre o passado para avaliar
nossa posição atual. Essa avaliação serve também para diagnosticar quaisquer
sintomas subversivos que tentem, porventura, ameaçar princípios e práticas
capazes de interferir o pleno êxito que necessitamos manter. Tudo por causa do
compromisso mútuo com a pessoa do Espírito Santo na realização das obras de
Deus. Isso não quer dizer saudosismo, necessariamente, mas base de sustentação.
Não há qualquer vaidade em se fazer menção da
graça e do poder de Deus que marcou o estabelecimento das Assembléias de Deus
no Brasil. Essa característica essencial foi responsável pelo desenvolvimento
que nos colocou em destaque, atualmente. Era este, a meu ver, o primeiro ponto
que identificava a igreja: a graça e o poder de Deus.
A graça derramada entre os primeiros crentes
paraenses causava curiosidade nos demais religiosos. Iam apenas para observar,
até criticar, mas eram profundamente sensibilizados com a atuação da graça de
Deus. Daí surgiu a expressão: "Iam, viam e ficavam".
O poder de Deus era evidente através da
diversidade de milagres que ocorriam com freqüência na igreja. Esse
sobrenatural era uma extensão dos dons espirituais distribuídos imparcialmente
entre o corpo de Cristo.
A ausência dos milagres gerava uma inconformação
entre o povo, e a idoneidade da liderança local era questionada. Não havia
necessidade de cultos especiais para a busca de milagres ou do batismo com o
Espírito Santo, porque eram comuns na vida diária da igreja. Convidar
pregadores de outras localidades era exceção - até porque não havia - a não ser
os missionários pioneiros.
Quando os próprios pregadores locais oravam pelos
enfermos não usavam de artimanhas engenhosamente articuladas, para trazer o
povo para a Casa do Senhor. O povo vinha porque, além de necessitado da
misericórdia divina (e sempre será) havia a certeza da existência do
sobrenatural que, até aos mais vis opositores era notório. O marketing
particular era repudiado. Só havia a promoção da pessoa do Senhor Jesus Cristo
que realizava todas as coisas.
A simplicidade de Cristo era outra característica
inegável. Um retrato fiel dos crentes da Igreja Primitiva que viviam sob os
mais rígidos padrões bíblicos, ou seja, praticavam o amor, tal qual ensinado
pelo Mestre. No livro de Atos 2.42-47, onde está narrado este princípio, merece
destaque aqui o fato que eles perseveravam unânimes, compartilhavam seus bens
entre os necessitados, em toda alma havia alegria e, sobretudo, a
"singeleza de coração". Sentimentos mesquinhos tinham que ceder passagem
para a beleza da humildade de Cristo que, sendo Deus se fez homem, e como homem
desceu ao nível de servo morrendo como desprezível da sociedade.
Preconceitos e discriminações ficavam na
contramão e à margem da estrada do Espírito. Críticas e murmurações pelas
falhas alheias eram suavizados com uma boa medida do perdão reconciliador, do
qual somos embaixadores (2 Co 5.18-20).
Essa simplicidade incluía o nível intelectual.
Eram bons examinadores das Escrituras Sagradas, mas, em sua maioria, eram
desprovidos de títulos universitários ou teológicos. Não por opção, mas as
dificuldades da época impunham-lhes estas condições. A ausência do preparo
escolar talvez tenha repercutido na área organizacional da igreja atual, mas
conduziu-lhes à total dependência da direção divina. Eram, no dizer do apóstolo
Paulo, "as coisas loucas, fracas, vis e desprezíveis deste mundo",
que foram escolhidos para que a glória da realização não recaísse sobre o
homem, mas unicamente a Deus (1 Co 1.26-30).
Eram tecnicamente fracos, mas espiritualmente
poderosos.
Pastor José
Wellington Bezerra da Costa
Presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.
Presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.
Não as
Inovações
Por: José Wellington Bezerra da Costa
Renovação ou inovação? Embora muito semelhantes na pronúncia, estas
palavras revelam-nos profundas divergências no contexto pentecostal. Renovar é
mudar para melhor ou melhorar em alguns aspectos, enquanto que inovar é
modificar o antigo e introduzir novos costumes, novas práticas e, no nosso
caso, novas liturgias e maneiras de adoração no culto a Deus. Inovar, enfim, é
querer tornar a igreja diferente, conformando-a, muitas vezes, com o mundo.
No meio em que vivemos, presenciamos todos os dias inovações das mais
diversas. Algumas, até razoáveis; outras, esquisitas, antibíblicas. Não podem
suportar as intempéries do tempo, porque, geralmente, são movimentos baseados
na presunção, na porfia e noutros sentimentos carnais.
Observamos esses fatos, apenas, para lembrar que não precisamos copiar
ou importar costumes e métodos para manter a estabilidade que o Espírito Santo
nos legou, até aqui.
Liturgias humanas passam. Não, porém, a liturgia dos cultos da igreja
primitiva. Veja 1 Co 14.26. Doutrinas meramente humanas, logo cedem passagem
para outras, recém-descobertas. Não, porém, a doutrina dos apóstolos.
Rejeitemos essas inovações. Devemos expurgá-las do nosso meio!
A renovação de que precisamos, não seria melhorar alguns aspectos ao
que já funcionou, comprovadamente, no início? E esta nova geração de obreiros
não é fruto disso? O número atual de crentes, de templos, de obras sociais, de
pastores, porventura não é a prova da eficácia do método de trabalho dos
pioneiros? Podemos julgá-lo obsoleto?
A renovação de que precisamos, antes de quaisquer métodos ou
estratégias, é o urgente retorno ao altar da oração, da busca da sabedoria e da
fé, dons do Espírito, indispensáveis na execução das obras de Deus.
Da oração, porque orando tornamo-nos humildes diante de Deus; da
sabedoria, porque ela é a mola mestra que norteia decisões; da fé, porque sem
ela é impossível agradar a Deus.
Renovar sim. Inovar não
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